Já leu a primeira parte do relato da viagem? Se não, clica aí no botão ao lado.
Depois do café, aproveitamos o cooler que foi comprado em Palmas para o passeio do Jalapão e que o Zé levou o resto da viagem de garupa, e compramos umas bebidas no mercado, o gelo foi o pessoal do restaurante gentilmente nos deu. Pegamos as motos e primeiro visitamos o centro histórico da cidade e o museu do cangaço na cidade, bem interessante.
Depois seguimos para o cais onde nos esperava o barco para o passeio pelo cânion do Xingó.
O Velho Chico foi descoberto em 1501 por Américo Vespúcio no dia de São Francisco, mas só em 1994 com a construção da usina do Rio Xingó, afluente do Velho Chico, com a inundação da área pela barragem, formaram os maravilhosos cânions.
Que paisagens, que água… que dia! Almoçamos tilápia assada em um dos restaurantes da barragem.
Pedimos pro piloteiro encostar em uma prainha deserta e ficamos um bom tempo curtindo as águas do Velho Chico.
Já de moto, retornando, passamos pela margem do Velho Chico, pós barragem, outra maravilha.
Paramos no centro histórico para umas fotos, subimos os 337 degraus de uma das escadarias e aproveitamos o por do sol por lá.
337 degraus ufa...
Piranhas tem gostinho de quero mais, voltarei certamente com a Milene para desfrutar mais.
Aqui começamos a alterar o roteiro da viagem, o que já era programado, pois iríamos avaliar o andamento dos deslocamentos diários e decidir a volta. Primeiro decidimos não pegar o barco que vai até o mar na foz do Velho Chico, nada de especial ali pra se ver e gastaríamos um dia todo pra isso, então decidimos ir até Penedo AL que é bem pertinho da foz, e dali atravessar a balsa até Neópolis já no estado de Sergipe. Depois alongar até Aracajú.
Penedo foi fundada em 1535.
Um dia mais suave do calor, ficamos abaixo dos 30 graus, creio que a proximidade com o mar ajudou.
Na parada, enquanto iríamos aguardar para pegar a balsa aproveitamos para almoçar a beira do rio, pedimos peixada e tilápia milanesa.
Quando saímos da balsa demos uma passada no centro de Neópolis, outra cidade histórica. Na praça na barraca de frutas, uma menina bateu papo com o João e contou que iria morar em Pomerode para trabalhar na Kyly, coincidências.
Pegamos a BR101 já nos preparando para movimento, pista simples, sinuosa com muitos caminhões.
Paramos numa barraca de frutas onde pude comprar tamarindo que adoro.
Chegando em Aracajú, procuramos um hotel que vimos no booking e fomos bem mal atendidos, já desistimos e procuramos outro. Hotel Real, bem meia meia boca, ar barulhento, ruim de limpeza, só tinha a vantagem de estar na orla.
Fomos dar uma volta na orla, jantamos numa pracinha cheia de barracas de comida típica, eu fui de acarajé e escondidinho de carne seca e carne de sol.
Saímos por uma estrada pelo litoral, linda e agradável, mas depois voltamos para a BR101.
Entramos na Bahia, predominante verde na faixa do litoral, pungente, me lembrou o trecho que passei da floresta amazônica em Rondônia. O problema é quando passamos pelas pequenas cidades às margens da rodovia, horríveis, muita pobreza e sujeira. Não confundir simplicidade com pobreza, na minha definição pobre é o simples porco.
Por ali pudemos ver alguns trechos de rodovia de concreto, feito pelo exército brasileiro, estradas perfeitas e aparentemente duráveis.
Paramos em mais uma barraca de fruta para o “almoço”, tomei um coco e pedi para abrir, a polpa bem carnuda foi minha refeição. Fizemos várias vezes paradas nas barracas de frutas, para pilotar durante o dia é muito bom, além de hidratar é leve, não dá sono.
Paramos em um posto para nos encontrarmos com a Regina, uma amiga do Vitor, ela rodou 200km para nos encontrar, amizade de muitos anos, que legal!
Nossa cidade destino acabou sendo Itabuna, pois calculamos pelo pôr do sol, e a cidade com melhor estrutura antes de escurecer seria ela.
Por indicação da Regina paramos no Hotel Roni, hotel de posto, ótimo! Além de ser tudo novinho as motos dormiram na porta dos quartos. Lá tinha um grande viveiro com vários pássaros, na maioria agapornis e calopsitas, mas a gritaria eram dos pavões, muito alto.
Fomos jantar no restaurante do posto e não foi muito legal, a comida até estava legal mas era extremamente barulhento e o pessoal todo sem máscara se servindo.
Nessa noite recebemos notícias de que estaria entrando um ciclone subtropical que nos pegaria no ES, então já dormimos preparados para água.
Partimos ainda com tempo seco as 7h, BR101 sentido ES. No meio do caminho perto do parque Monte Pascoal (aquele do descobrimento do Brasil) a chuva nos pegou, mas nada muito forte. Ela nos acompanhou até o final do dia.
Me chamou atenção naquela região a arquitetura e disposição das fazendas, todos as edificações agrupadas e com uma grande chaminé piramidal ao centro, diferente isso!
Parque Monte Pascoal
Paramos para almoçar em um posto, comidinha simples e boa. Por estar chovendo tocamos até bem, paramos na cidade de Nova Venecia já no ES, bem agradável.
Ficamos no Cidade Hotel, comprado pelo jogador de futebol Richardson (acho que ex Fluminense e agora está no exterior).
Fomos jantar numa pizzaria, a Forno a Lenha. Voltamos de táxi com muita chuva.
Para nossa sorte o ciclone foi muito mais fraco do que o previsto.
Nesse dia fomos conhecer um dos pontos altos do roteiro, o Monumento Natural dos Pontões Capixabas, Burle Marx descreveu como a mais linda paisagem que viu no mundo… e realmente é lindo!
Entramos sentido Águia Branca e descemos em direção a Pancas. Essa parte da estrada é sensacional, estrada ótima com curvas que iam desvendando lindas vistas com formações gigantes. Assim foram vários quilómetros.
Ops, hora de descansar...
Depois pegamos a estrada pra Pancas, essa estava horrível, toda remendada, desagradável. Chegando na cidadezinha foi bem decepcionante, sem graça, imaginava uma cidade turística, mas não. O que vale são as formações vistas pelo caminho.
Tomamos um café na padaria e seguimos para MG por estradas bem lindas.
Fizemos o Caminho do Vale do Rio Doce, margeando o mesmo.
O almoço foi na Parada Bixo de Pé, muito boa, comi queijo minas, queijo requeijão, água de coco, depois ainda umas verduras com franguinho mineiro.
Pelas 16h paramos em Itapira e resolvemos tocar mais um pouco até Itabira. Aí o trecho da BR381 estava em obras e muitos caminhões, chegamos já no último raio de luz. Vale comentar que estão fazendo as pistas padrão europa ali também, tudo de concreto, pista dupla, mureta alta também de concreto, vai ficar um espetáculo quando tudo pronto.
Chegando na cidade na muvuca do rush, aproveitamos para abastecer e procuramos hotel pelo booking. Hotel Domus, bom.
Fomos jantar tarde 20h, o restaurante era perto, o problema foi que a comida demorou demais, dividi um parmegiana com o Vitor e tomei uma artesanal com o Zé. Roubo foi cobrarem R$ 35 por uma jarra de suco de abacaxi.
Dormi tarde, 23h, mas foi boa noite.
Descobrimos na saída da cidade que Itabira é a terra de Drummond de Andrade. Estava bem fresquinho, que bom por que a passagem por Belzonte foi como esperado um estresse, congestionamento, corredor no meio de carros e caminhões. Na engronha, o grupo acabou se dividindo e se reencontrando mais a frente em um posto.
Pegamos uns trechos de pista de concreto, trecho duplicado, padrão europa. Em uma parada para almoço em um posto na MG050, lá um dos frentistas veio conversar e indicar Capitólio, o mar de Minas… á era nosso destino.
Mané tem em tudo que lugar, um de twister com a namorada na garupa ficou fazendo merda na estrada, querendo apostar corrida com a gente, bichinho sem noção.
Novamente, por causa da pandemia não conseguimos visitar a nascente do Velho Chico, que fica na Serra da Canastra, estava fechada essa entrada do parque. Ficará para a próxima visita na região, então tocamos direto para Capitólio.
Chegamos em Capitólio era 15h, paramos para pegar o endereço de uma pousada que previamente procuramos no booking e tocamos para lá. Ótima surpresa, Pousada Viver Capitólio, ambiente ótimo, tudo novo.
Fomos para a piscina tomar uma cerveja e aproveitamos para fazer contato com o barqueiro, que foi indicação de um amigo do Rubem.
Jantamos no centrinho, no Bar Central. Pedimos tilápias, muito gostosas e super bem servido. A garçonete que também anda de moto curtiu demais sermos viajantes motociclistas, uma querida.
Não tinha nem táxi nem uber na cidade, o marido da recepcionista da pousada que nos atendeu, fomos esfaqueados, R$70 ida e volta… por 10km.
O café da manhã da pousada bateu todos da viagem principalmente pela pamonha maravilhosa que serviram.
Fomos até o píer e deixamos as motos em uma tenda coberta pra aliviar um pouco do sol. Dia lindo! A lancha era boa, bom espaço e motor de 200hp, exclusiva pra nós.
A represa de Furnas é outra maravilha, realmente o Mar de Minas! Tem cerca de 1500km2, e abrange vários municípios da região, o mais conhecido é Capitólio. As atrações são os cânions e as cachoeiras, além claro das águas claras e prazerosas. Foram cerca de 100km ida e volta por vários locais.
O almoço foi no Kanto da Ilha, os demais estavam fechados, mas valeu a pena, comida muito boa, servida em 10min e preço bem justo pelo lugar que é muito aconchegante. Demos sorte de ter chegado minutos antes de lotar, e olha que era uma quarta de semana sem feriado...
Nem fomos jantar, tinha bastante coisa ainda que levamos, então ficamos na pousada organizando a volta.
Acabado os pontos turísticos de nosso roteiro o esquema era voltar.
Pedimos para anteciparem o café da manhã, isso foi bom por um lado, mas não teve a pamonha, ah a pamonha!
O dia foi de tocada, rendeu muito bem. Já bem escurecendo paramos na pequena mas simpática Piraí do Sul no Paraná.
Encontramos um hotel muito legal, Hotel Eldorado, tudo novinho. Fomos jantar num pequeno, simples, mas gostoso restaurante.
Uma coisa que chamou atenção na cidade foi a quantidade exagerada de cães de rua, estava até bem alimentados, mas eram muitos. Acabei o saco de ração com eles.
Apesar de ser uma quilometragem menor esse dia era véspera de feriado, então já previmos que seria estresse.
E assim foi…
Em Curitiba já pegamos congestionamento e corredor. Paramos para despedir do Zé que ficou por lá.
De Joinville até navegantes de novo congestionamento forçando fazer corredor no meio dos caminhões… pqp, detesto.
Mas ok, tudo deu certo! Paramos no posto para se despedir do amigo Vitor que iria tocar até Floripa ainda, e do Rubem que foi até BC, e dali pegamos a BR470 já no contra fluxo mais tranquila.
E assim finalizamos nossa viagem, mais uma vez Sucesso! Sem maiores estresses, voltamos sempre melhores do que fomos, mais experientes, mais tolerantes, mais amantes do nosso Brasil, e claro, mais ansiosos para a próxima!!!
Valeu guria, obrigado por me levar conhecer esse Brasilzão lindo e me trazer de volta em segurança para minha família.
#mototuristando #VelhoChico
8500km de moto, 200km de barco e 600km de carro
Faltam poucos estados para rodar de moto...
Reflexão 1:
São vários Brasis nesse nosso Brasil… a diferença cultural é gigante, cada região tem suas características próprias, e não é só o clima e vegetação que diferencia esses povos. Faço uma distinção entre o simples e o pobre, pobre pra mim é o simples porcalhão. O que vi lá no norte e nordeste foi a maioria de gente simples, gente sofrida pelas condições climáticas duras, mas mesmo assim firmes no seu dia a dia. Comida simples mas gostosa, casas simples mas bem organizadas, na maioria me pareceram pessoas felizes.
Só tive uma péssima impressão da Bahia, tanto na área litorânea quanto no sertão, acho que eles têm muito a melhorar na questão limpeza e organização.
O Velho Chico leva vida para a região, suas águas permitem a agricultura, frutas e verduras de qualidade, penso que ele faz uma diferença incrível naquele mundo. Que o projeto de transposição cada vez mais dê certo e leve para mais longe ainda essa dádiva.
Reflexão 2:
Temos ainda um abismo enorme em relação a infraestrutura de rodovias se comparados aos países de primeiro mundo. Vou comparar com a Europa que conheço bem, já rodei por 12 países da União Europeia.
Lá quando planejamos uma rota a margem de erro e tempo de deslocamento é mínima, salvo algum imprevisto, se pegarmos as autoestradas são sempre iguais, mesmo padrão.
Aqui no Brasil é o samba do crioulo doido, numa mesma BR em questão de poucos quilómetros você pega pista simples boa, simples esburacada, dupla, terra, congestionamento de caminhões, inúmeros animais desfilando na pista e mais sabe-se lá o quê… não é fácil, previsão nenhuma é certa. Uma esperança são as novas vias que estão sendo duplicadas, parecem que com um padrão bem melhor e mais durável.
Precisamos urgentemente das linhas férreas!
Reflexão 3:
Toda viagem tem seus percalços, desde problemas técnicos com as motos, hospedagens, locais fechados, até trechos de estradas em terrenos não previstos. Como o amigo Zé sempre fala, servem para testar nossas habilidades em situações de estresse, já que pilotar é um risco, porém uma prazerosa aventura, que temos o privilégio de fazer parte.
Fizemos 8500km de moto e graças tivemos apenas um único susto maior na estrada, voou de um utilitário umas cadeiras mal amarradas da caçamba, caindo na pista bem em frente as motos. Desviamos a tempo, mas quase deu caca com carros na sequência. Outra graça e não ter visto nenhum acidente grave, teve apenas em dois locais motoqueiros caídos com lesão leve.
As estradas do norte e nordeste nos surpreenderam, estavam com ótima qualidade, a rodagem foi ótima. Poucos os trechos que tivemos pista ruim, esburacada. Movimento de caminhões sim, isso é uma constante, o que ajudam são as longas retas.
A fome e sede sofridas por alguns animais abandonados (cães, gatos, jumentos a maioria) na região seca do Nordeste, traz tristeza ao coração e surge um mal-estar decorrente da impotência de fazermos algo concreto para resolver esse grave problema.
Apesar de levarmos um pouco de ração e, sempre que havia oportunidade, estimularmos alguns poucos a tratar melhor os animais, isso era apenas um sopro de esperança para os sofridos animais. Há muito a ser feito para desenvolver a consciência da valorização da vida. Ao olhar para trás, penso que pelo menos plantamos algumas poucas sementes, tornando a viagem mais proveitosa e com mais sentido. E tenho certeza de que dá para melhorar muito.
Já em algumas poucas cidades, foi possível constatar um claro sinal da predominância de seres evoluídos, onde havia animais de rua saudáveis, muito bem tratados e respeitados, vivendo em perfeita harmonia com os habitantes. São exemplos Capitólio/MG e Piraí do Sul/PR.
A título de brincadeira, e ao mesmo tempo para testar, perguntei à proprietária de um cão comum, sem raça definida, não lembro de qual cidade, se ela me venderia ele por R$ 2.000,00, ao que ela de pronto me respondeu: - Você venderia seu filho? Rapaz….. isso me (nos) tocou. Ela deu a resposta que resume bem o valor e o respeito que ela dava ao animal, um exemplo a ser seguido. Tenho certeza de que há muuuuita gente de bem que age como ela.
Texto do amigo João Adelar, motociclista e participante da viagem Velho Chico